Convergência tecnológica
É um termo que, de uma maneira geral, é utilizado para
designar a tendência de utilização de uma única infraestrutura de tecnologia
para prover serviços que, anteriormente, requeriam equipamentos, comunicação, protocolos e padrões independentes. Faz-se para
permitir que o utilizador aceda às informações de qualquer lugar e através de
qualquer meio de comunicação por uma interface única e as suas evidências
revelam-se em muitos sectores - na economia, na comunicação e na produção, entre
outros. O Deutsche Bank Research
define convergência como "um processo de mudança qualitativa que liga dois
ou mais mercados existentes e anteriormente distintos”.
As tecnologias
envolvidas no processo de convergência são, de forma geral, tecnologias
modernas de telecomunicações tais como rádio, televisão, redes de computadores e de telefonia.
Embora todos os
horizontes apontem agora para outro tipo de convergência, mais alargada e cujas
oportunidades de aplicação são ainda mais abrangentes do que as da Web, o
encontro entre a nanotecnologia, biotecnologia e tecnologia da informação,
a atenção deste artigo visa apenas à convergência em telecomunicações.
Convergência
tecnológica
O
ponto de partida para o fenômeno da convergência tecnológica é, evidentemente,
a viabilidade de desenvolvimento e comercialização em grande escala de soluções
de tecnologia convergentes, sejam redes, serviços ou terminais.
Convergência de
redes
É
a unificação entre duas ou mais redes de comunicação distintas numa única rede
capaz de prover os serviços antes prestados pelas diversas redes.
Um
dos primeiros exemplos é a convergência entre redes de voz e dados, inicialmente através de
tecnologia RDSI e, mais
recentemente, pela tecnologia XDSL.
Outro exemplo de convergência a ser considerado seria entre voz e fax, ainda anterior, que começou a ser
empregue em escala comercial na década de 1970. Todavia, é questionável se se
trata de verdadeira convergência, já o fax, como o conhecemos hoje, sempre se
utilizou da rede de telefonia, ao contrário das redes de dados que tiveram uma
origem independente.
Ultimamente,
aos serviços de voz e dados tem incluído serviços de vídeo e/ou multimídia. Muitos desses
serviços não existiam antes de se começar a falar em convergência de redes, por
isso pode-se dizer que já "nasceram convergentes", como IPTV (que, a despeito do nome, é
diferente de simplesmente enviar a transmissão da televisão analógica
tradicional por protocolo IP). A oferta combinada de serviços de voz,
Internet banda larga e
televisão recebe o nome de Triple play, embora esse
termo tenha origem no marketing e seja um modelo de negócios para
comercialização dos produtos e não uma solução ou padronização tecnológica.
Convergência
fixo-móvel
Nos
anos 1990 começou a falar-se na convergência entre telefonia fixa e
móvel, mas sem resultados práticos. Uma década depois o assunto ressurge,
ainda sem uma definição clara do que seria tal convergência, embora se possa
dizer, em linhas gerais, que "tem como objetivo disponibilizar serviços
convergentes pelos ambientes fixo, móvel e Internet"2 .
Atualmente,
as operadoras de telefonia enfrentam desafios para desenvolver estratégias para
convergência fixo-móvel. As tecnologias que recebem mais atenção (Unlicensed Mobile Access, IP Multimedia Subsystem) são centradas na
própria rede e estão em estágio imaturo, despendendo esforços que divergem da
real necessidade da prestação efetiva de serviços para competir com outros
provedores como Skype. Ainda falta demanda
de mercado consistente, tanto de consumidores quanto empresas2 .
O Yankee Group publicou um estudo que identifica quatro
estágios sucessivos na convergência fixo-móvel3 :
1.
Convergência por pacotes (packaging
convergence): Forma mais básica de convergência que consiste simplesmente
na oferta comercial de telefonia
fixa e móvel num único pacote
de serviços. Não há integração entre tecnologias, mas unificação do atendimento
ao consumidor e cobrança de faturas.
2.
Convergência de recursos (feature-based
convergence): Integração de recursos que, anteriormente, existiam apenas
para telefones fixos ou móveis. Pode-se citar funcionalidades de transferência
automática de chamadas direcionadas para um telefone fixo (como na residência do
cliente) para seu celular ou vice-versa, bem como caixa de mensagens de voz
integrada.
3.
Convergência de produto (product
convergence): Convergência resultante da redundância entre produtos fixa e
móvel, fazendo com que efetivamente se tornem um só. É um amadurecimento da
convergência de recursos, pois à medida que começam a ser oferecidos em um
produto recursos que só eram disponíveis no outro (por exemplo, suporte a E911 em telefones móveis e melhoria do sinal dentro das
residências), a telefonia fixa tende a cair em desuso.
4.
Convergência total (seamless
convergence): Quando a experiência do usuário ocorre de maneira transparente,
coesa, contínua. Pode-se mudar de localização ou terminal sem sobressaltos,
mantendo acesso às mesmas informações e serviços. A mesma agenda de contatos
telefônicos, perfis e configurações ou arquivos multimídia estariam sempre
disponíveis e sincronizados seja no telefone móvel, PDA ou computador desktop (PC).
Convergência de serviços
É a disponibilização de um mesmo serviço através de diferentes meios de
comunicação.
Há fortes razões para que serviços de telecomunicação terem se
desenvolvido como silos estanques, centrados na sua própria tecnologia. No
cenário tecnológico existente no nascimento dessas empresas, não havia nenhuma
possibilidade de se utilizar a rede de telefonia fixa para, por exemplo,
rádio-novelas. Em conseqüência, os modelos de negócio fundiram serviços com
redes físicas: empresas de televisão produzem conteúdo, mas também são as
proprietárias das antenas de difusão e, não menos importante, das faixas de
freqüência utilizadas. Se por um lado, se compreende como as empresas chegaram
nessa posição, não há suporte tecnológico para explicar os modelos de negócio
completamente verticais adotados por muitas delas. É notório o caso da
AT&T, monopolista de fato da telefonia fixa nos Estados Unidos por décadas,
e que implementou uma política que proibia a conexão de terminais que não
fossem produzidos por ela mesma. Muitas inovações de terceiros deixaram de ser
lançadas até que o governo americano forçou a companhia a alterar essa posição.
Caso semelhante ainda acontece com operadoras de telefonia móvel que restringem
a conexão à rede de celulares exclusivamente comercializados por ela mesma,
além de barrar funcionalidades que não estão alinhadas com seus interesses. Por
exemplo, uma rede americana desabilita a funcionalidade Wi-Fi dos celulares
porque essa facilidade interfere com seu serviço de distribuição de músicas.
SOBREPOSIÇÃO DE SERVIÇOS
Dado esse cenário, poderíamos dizer que as
operadoras de serviços de telecomunicação adotam estratégias de inovação
defensivas na medida em que a convergência de serviços deve acontecer pela
implantação de serviços incrementais derivados da plataforma tecnológica
existente. Unânimes, todas querem a convergência, desde que sob seu comando.
Redes de telefonia implantam serviços de TV, redes móveis oferecem
"números fixos" e assim por diante. O resultado é ineficiência e
redundância. É como se tivéssemos diversas redes de distribuição de energia
elétrica em uma mesma cidade, cada uma com uma tecnologia diferente, competindo
pelos mesmos serviços e usuários.
A constituição de infra-estruturas básicas
com tal nível de redundância e ineficiência parece não fazer sentido. Por que
faria para telecomunicação? Uma solução seria, como acontece com a energia
elétrica, adotar uma infra-estrutura única para a transmissão de informação?
Como isso poderia ser aceito, se a situação anterior de monopólio foi apontada
como uma das razões da baixa inovação e da ineficiência dos serviços por muitos
anos? Não foi justamente a concorrência que estabeleceu um ciclo de inovação em
setores estagnados por anos de jugo monopolista? Essas questões, entretanto,
escondem um erro de pressuposto. Como os modelos de negócio, derivados de
cenários tecnológicos já superados, fundiram serviços às infra-estruturas, o
monopólio da infra-estrutura implicava no monopólio do serviço. O cenário
tecnológico já disponível torna esse pressuposto errado. Existe a possibilidade
de se separar serviços da infra-estrutura que os suportam. O monopólio
territorial de um prestador de infra-estrutura, análogo ao fornecedor de redes
elétricas, obteria escala, eficiência e o retorno econômico suficiente para
manter seus sistemas em sintonia com as necessidades dos usuários. A
concorrência ocorreria agora nos prestadores de serviço que poderiam dispor de
uma infra-estrutura padronizada e de alta capacidade. Essa discussão,
incipiente no Brasil, já ocorre nos Estados Unidos sob o tema
"neutralidade de redes (network neutrality). Claro que um modelo
que separe a infra-estrutura dos serviços altera radicalmente os modelos de
negócios atuais. Não se advoga aqui a pura e simples revisão dos modelos
estabelecidos, mas me parece fundamental repensar o assunto para evitar que,
após a encarniçada luta que estamos presenciando hoje, surja um novo monopólio
vertical, com as conseqüências já conhecidas.
O segundo fator que influencia diretamente
a inovação do setor diz respeito às instituições e normas que regulamentam os
serviços de telecomunicação. Criado para proteger os usuários, o sistema
regulatório é lento e complexo pela própria natureza de seu processo, público e
"neutro". Apesar disso, verdadeiros embates ocorrem nesses organismos
entre representantes interessados em transformar suas próprias tecnologias nos
padrões que serão adotados. Além disso, o sistema acaba sendo um fator
impeditivo para a inovação ao obstar o lançamento de quaisquer novas
tecnologias sem o prévio regulamento.
Fonte:
http://inovacao.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-23942007000600008&lng=pt&nrm=is